Um novo estudo avaliou a possibilidade de utilizar células estaminais do sangue do cordão umbilical em combinação com terapêutica convencional para tratar cirrose hepática e concluiu que esta metodologia poderá vir a constituir uma mais-valia no tratamento desta doença.
A cirrose hepática é uma doença crónica do fígado, que habitualmente progride nos primeiros 10-15 anos sem sintomas associados e pode levar a graves complicações de saúde. Está geralmente associada à ingestão excessiva de álcool ou a hepatites de origem viral e caracteriza-se pela morte das células do fígado, que são substituídas por tecido fibroso semelhante ao de uma cicatriz. A estrutura do órgão fica, desta forma, alterada, comprometendo a sua função. Através da melhoria do cuidado ao doente com cirrose hepática, a taxa de sobrevivência tem melhorado ao longo dos anos. No entanto, esta ainda constitui uma das principais causas de morte a nível mundial e a quinta causa de mortalidade precoce em Portugal. Apesar de o único tratamento curativo para os doentes com cirrose hepática não controlada ser o transplante hepático, este apresenta uma série de potenciais problemas, como falta de dadores, elevado custo, complicações decorrentes da cirurgia e rejeição imunológica.
Uma das abordagens terapêuticas que têm sido investigadas no sentido de controlar a progressão da cirrose hepática tira partido da capacidade que as células estaminais do sangue do cordão umbilical têm para migrar para tecidos lesionados e promover a sua regeneração. Nos últimos anos, vários estudos reportaram que as células estaminais do sangue do cordão umbilical são capazes de melhorar a função hepática e podem constituir um tratamento seguro e viável para a cirrose hepática.
Sangue do cordão umbilical melhora a função hepática e a qualidade de vida dos doentes
Um estudo agora divulgado comparou a eficácia da terapia de suporte convencional e desta em combinação com terapia celular com sangue do cordão umbilical no tratamento de cirrose hepática, no sentido de fornecer uma base científica para a sua aplicação clínica e para investigação científica futura. Neste estudo foram analisados os resultados do tratamento de 616 doentes com cirrose hepática: 327 receberam terapia combinada de sangue do cordão umbilical em conjunto com terapia de suporte convencional e 289 doentes foram tratados apenas com a última. As análises sanguíneas efetuadas revelaram que o grupo que recebeu terapia combinada apresentou uma melhor recuperação da função hepática, relativamente ao grupo que só recebeu terapêutica convencional, expressada por melhorias nos níveis de vários parâmetros geralmente utilizados para avaliar a função hepática. Observou-se ainda uma melhoria significativa do apetite e um alívio da fadiga, distensão abdominal e edema nos doentes que receberam terapia combinada, em comparação com os tratados apenas com terapia convencional, o que se traduziu num aumento da qualidade de vida destes doentes. Estes resultados indicam que, em comparação com doentes com cirrose hepática tratados apenas com terapia de suporte convencional, os que, adicionalmente a esse tratamento, receberam células estaminais do sangue do cordão umbilical, exibiram efeitos terapêuticos mais satisfatórios. Não se observaram efeitos adversos graves decorrentes do tratamento com sangue do cordão umbilical, que se demonstrou seguro em doentes com cirrose hepática. A febre foi o efeito adverso mais comum e, na maioria dos casos, resolveu nas primeiras 24 horas.
Este estudo vem confirmar a segurança e a eficácia da terapia com células estaminais do sangue do cordão umbilical em combinação com terapêutica convencional em doentes com cirrose hepática. Esta terapia acentuou de forma significativa a melhoria da função hepática e da qualidade de vida após o tratamento convencional, representando, assim, uma opção de tratamento promissora para doentes com cirrose hepática.
Referências:
Tao H, Li Y, Wang T, Zhou C. Umbilical cord blood stem cells transplantation as an adjunctive treatment strategy for liver cirrhosis in Chinese population: a meta-analysis of effectiveness and safety. Ther Clin Risk Manag. 2018 Feb 26;14:417-440.
https://z-3.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2016/11/RRH-Gasteroenterologia_hepatologia.pdf