A fístula broncopleural consiste numa comunicação anormal entre a árvore brônquica e o espaço interno da pleura (a membrana dupla que reveste os pulmões e o interior da cavidade torácica), através da qual o ar inspirado entra nesse espaço. É uma complicação grave que pode ocorrer após cirurgia pulmonar e está associada a uma taxa de mortalidade de 12.5% a 71.2%. O fecho de fístulas broncopleurais continua a ser um grande desafio e, embora várias abordagens terapêuticas tenham sido utilizadas, os resultados são comumente insatisfatórios. Assim, há necessidade urgente de novas estratégias para solucionar este problema. Na última década, foram publicados vários casos de sucesso da aplicação de células estaminais mesenquimais (MSCs) no fecho de fístulas broncopleurais, embora se desconheça o modo de ação destas células neste contexto. Um dos mecanismos propostos assenta no facto das MSCs serem capazes de libertar substâncias com capacidade regenerativa, o que poderá promover o fecho desta comunicação.
Injeção local de células mesenquimais do cordão umbilical fecham fístula broncopleural
Um artigo científico recente refere o caso de uma mulher de 33 anos que, seis meses após remoção de um lobo do pulmão (lobectomia), devido à presença de quistos pulmonares, apresentava uma fístula broncopleural (5 mm). Esta fístula não fechou apesar de, durante mais de dois anos, esta doente ter sido submetida a vários procedimentos com essa finalidade. Após esse período, foi encaminhada para um hospital onde a equipa que a assistiu, conhecendo estudos anteriores que indicam que as MSCs se têm revelado úteis no fecho de fístulas broncopleurais, decidiu recorrer à terapia com MSCs do tecido do cordão umbilical para alcançar esse objetivo. As MSCs do tecido do cordão umbilical foram injetadas localmente, ao redor da fístula. A doente apresentou febre ligeira transitória (38°C), que voltou ao normal sem tratamento antipirético e um mês após a injeção de MSCs do tecido do cordão umbilical a fístula broncopleural tinha fechado. Nenhum evento adverso grave ocorreu durante o tratamento. Seis meses após injeção das células, não havia qualquer evidência de recorrência da fístula, e durante o follow-up de dois anos não houve recaída. Os autores deste procedimento concluem que a utilização de MSCs pode ser uma abordagem terapêutica promissora para o fecho da fístula broncopleural. No entanto, ensaios clínicos, randomizados e controlados e com um maior número de doentes, são necessários para demonstrar a eficácia desta abordagem terapêutica relativamente a outros métodos.
Referência
Closure of Bronchopleural Fistula with Mesenchymal Stem Cells: Case Report and Brief Literature Review. Zeng et al., Respiration. 2018 Oct 26:1-4.