Em doentes do sexo feminino, um dos problemas que pode surgir após quimioterapia para tratamento do cancro é a alteração da função ovárica, com consequente perda de fertilidade. A quimioterapia pode causar danos, tanto nos ovócitos – as células que, juntamente com o espermatozoide, dão origem ao embrião – como nas células que os rodeiam e que desempenham um papel fundamental na sua maturação. Este processo pode originar insuficiência ovárica prematura. A ausência de ovulação característica desta doença leva a que estas mulheres se debatam com problemas de infertilidade. Uma metodologia inovadora, baseada na administração de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical (UC-MSC), está a ser desenvolvida no sentido de restaurar a fertilidade em mulheres com insuficiência ovárica prematura. Vários estudos têm demonstrado que as células estaminais mesenquimais, através da libertação de fatores de crescimento e outras moléculas, têm capacidade para promover a sobrevivência de outras células e a regeneração de tecidos danificados.
Células do cordão umbilical recuperam função ovárica em modelo animal
Um estudo recentemente publicado reportou melhorias na função ovárica e na fertilidade em modelo animal de insuficiência ovárica prematura, após tratamento com UC-MSC. Mais concretamente, nos animais submetidos a quimioterapia que desenvolveram insuficiência ovárica prematura, a administração destas células estaminais melhorou os níveis hormonais e o número de folículos (que levam à libertação de óvulos para fecundação), com consequente aumento da fertilidade. O estudo mais detalhado dos mecanismos envolvidos revelou que a administração de UC-MSC promove a sobrevivência das células dos ovários, bem como o desenvolvimento dos folículos.
Os resultados obtidos neste estudo estão em concordância com outros anteriormente publicados, o que indica que o tratamento com células estaminais obtidas a partir de tecido do cordão umbilical poderá vir a constituir uma alternativa eficaz no tratamento de insuficiência ovárica prematura. A realização de ensaios clínicos será determinante para o desenvolvimento deste tratamento inovador.
Referência:
Zheng Q, et al. Umbilical Cord Mesenchymal Stem Cell Transplantation Prevents Chemotherapy-Induced Ovarian Failure via the NGF/TrkA Pathway in Rats. BioMed Research International. 2019. 1-9. doi:10.1155/2019/6539294.