Estudos descritos utilizaram duas novas estratégias para restaurar a visão em coelhos e em crianças com cataratas congénitas.
Foram recentemente publicados 2 artigos na revista Nature que mostram o potencial das células estaminais para regenerar diferentes tecidos do olho.
No primeiro estudo, um grupo de investigadores cultivou células iPSCs (induced pluripotent stem cells) humanas in vitro, e conseguiu obter discos de células contendo diferentes camadas de tecidos característicos do olho, mimetizando de certa forma a sua formação. Os autores sugerem que estes discos de células, poderão ser utilizados como modelos para estudar o desenvolvimento dos diferentes tecidos, tanto saudáveis, como de olhos com doenças congénitas, e também que poderão ser usados como fonte de tecidos, tais como lentes ou córneas, para substituição de tecidos danificados.
Com o intuito de demonstrar esta última aplicação, os autores isolaram células de uma das regiões do disco, e conseguiram obter uma córnea que foi depois transplantada para coelhos com a visão danificada. Após o procedimento, os coelhos recuperaram uma córnea funcional.
No segundo estudo, um grupo de investigadores descreve uma cirurgia minimamente invasiva que se baseia na regeneração de células estaminais da própria lente do olho para tratar crianças com cataratas congénitas.
As cataratas são a principal causa de cegueira em todo o mundo, e apesar de ser mais frequente em idosos, é responsável por grande parte dos casos de perda de visão em crianças. O tratamento atual, consiste na remoção da lente do olho e sua substituição por uma lente artificial. Mas, no caso de crianças com cataratas congénitas, esta cirurgia apresenta algumas complicações, uma vez que o olho continua em desenvolvimento, sendo necessário realizar novas intervenções no futuro.
Para tentar ultrapassar essa limitação os investigadores desenvolveram um método alternativo à cirurgia convencional. Foi realizada uma incisão mais pequena que permitiu remover a lente danificada, sem no entanto remover as células estaminais que se encontravam junto a esta (permitindo desta forma a regeneração da lente). O método foi primeiro testado em coelhos e macacos, tendo-se verificado que a lente era capaz de crescer novamente, mantendo as suas funções. Os investigadores avançaram então para um pequeno ensaio clínico onde trataram 12 crianças com menos de 2 anos. Os resultados demonstraram que ao fim de 3 meses a lente do olho de todas as crianças tinha sido regenerada, sem quaisquer complicações. As crianças serão agora seguidas para avaliar o desenvolvimento destas lentes a longo prazo.
Em ambos os estudos os resultados apresentados são promissores, sugerindo um novo caminho para a regeneração da visão, baseado em células do próprio.
Fonte: http://www.nature.com/news/sci-fi-eye-experiments-improve-vision-in-children-and-rabbits-1.19535